Mistério: por que Sette-Câmara resolveu comentar minha resenha?
Vocês já gostam de treta olavete
Eu criei este Substack em maio, quando parei de escrever para a Gazeta do Povo, então um jornal de mais de 100 mil assinantes, e passei a escrever para a SCF, um site russo que o Departamento de Estado não deixa nem postar no Twitter. Por isso, resolvi criar uma newsletter para poder divulgar os meus textos. Que são sobre 1001 assuntos diferentes, e, como expliquei aqui, eu não ia mandar texto sobre olavismo pros russos.
Muita gente nem sabe o que é o Substack. Muita gente nem sabe que jornal é a Gazeta do Povo, e achava insólito eu escrever para um jornal do Paraná. Ainda assim, com certeza, há mais gente que sabe o que é Substack, ou que jornal é a Gazeta do Povo, do que quem saiba quem é Pedro Sette-Câmara. Explico: é um olavete assim famoso entre os olavetes highbrow, tanto que tem mais de 7 mil inscritos. Descobri, nestes meses, que o Substack, criado em 2017, é o habitat dos olavetes highbrow. E o que vem a ser um olavete highbrow? É o cara que gosta de literatura, de cultura humanística, em vez de ficar só babando que o Foro de São Paulo é maléfico e que o PT é gramscista.
Como descobri que este é o habitat de tais olavetes? Primeiro, eu vi que é comum entre escritores ter um Substack, mas não atinei que eram escritores ligados à bolha olavete. Depois, numa bela manhã, começaram a pipocar notificações de assinaturas na newsletter. Pensei que havia acontecido algo, e algumas horas depois avisaram no Twitter que Ronald Robson havia respondido à minha resenha. Pois bem: semana passada, começaram a pipocar notificações de novo. Achei que desta vez eu não ia descobrir, até que mandaram no meu canal do Telegram (pois é, ainda suspenderam o Twitter e eu não podia nem postar mais print do texto novo lá) um vídeo de incríveis seis minutos em cuja quase inteireza Sette-Câmara repete que eu morro de inveja de Olavo e só por isso ecrevo contra o olavismo. A “prova” é que eu escrevo igual a ele, então tenho um desejo mimético e isso é Girard.
Foi a quase inteireza, e não inteireza, porque no começo Sette-Câmara diz que tem sete mil e tantos inscritos no Substack, ao passo que eu só tinha noventa e tais, e só seria digna de atenção caso tivesse pelo menos 3 mil. Ou seja, para discutir um livro sobre influencers superficiais, mais valeria a opinião de Felipe Neto do que a minha, porque eu não sou uma influencer cheia de seguidores. Eu sou tradutora, historiadora da filosofia com formação acadêmica (doutorado) e escrevia para um jornal de direita de mais de 100 mil assinantes, mas o que deveria contar é o número de seguidores no Subctack. (Será que Instagram vale? Eu só tenho um fake para poder ver algumas coisas.) E mesmo assim, ele, do alto de sua fama (restrita à bolha olavete highbrow) e dos seus 7 mil seguidores no Substack, resolveu tratar da minha resenha. Não para demoli-la (afinal, é algo que Olavo poderia ter escrito e isso, suponho, é um elogio), mas para me denegrir com uma reductio ad Valescam. Para a Popozuda, assim como para o finado Olavo, tudo é “inveja das inimigas”. Eu sou igual a Olavo porque me miro nele, e só não sou um gênio porque me deixo levar pela inveja e não assumo que admiro Olavo e o imito.
Vou contar uma coisa: eu esperei Olavo morrer para ler os livros dele. Mesmo assim, li só dois, Nova Era e O Imbecil Coletivo. Não li O Jardim das Aflições. Como eu não consumi a minha juventude sendo devota de um escritor só, eu sei que a crítica sarcástica não é monopólio de Olavo. Os sarcásticos que escreviam sobre quotidiano e exerceram influência sobre mim são dois: João Ubaldo Ribeiro (que eu lia no jornal A Tarde) e Millôr Fernandes (cujas coletâneas minha avó adorava e me deu). Eu esperei Olavo morrer porque com ele vivo não dava para ler e criticar sem aparecer uma torcida organizada pronta para difamar (e um dos estratagemas é perguntar quantos milhares de livros o crítico vendeu para então lançar o ad Valescam). Se não posso falar nada, melhor nem ler. Mas depois eu descobri que também não adiantava ler, porque para criticar é preciso ouvir as milhões de horas de COF para poder opinar.
A obsessão dos olavetes com a minha resenha é curiosa. Eu acho que é por causa do meu diagnóstico da situação, que é tão certeiro e evidente, que só resta gritar para fazer ruído e tentar abafá-lo. Todos abrem o berreiro de uma vez, para se sentirem unidos e terem menos medo. Mas não adianta: a própria miséria da resposta de Sette-Câmara mostra a miséria do olavismo.
E eu fico muito contente por ajudar a cessar essa influência deletéria sobre a cultura brasileira. Não, o policial que pega o Maníaco do Parque não tem um desejo mimético, nem morre de inveja dele.
Criei esse substack para ler a verdade e escrever a verdade. Se quisesse me contentar com menos ia para outra rede social, balancar minhas nádegas no TIQUE-TOQUE. Você fala apenas a verdade, e o povo fica dodói, vamos ser francos. Olavete te mandando ler os livros do Olavo tem a mesma energia da Marilena Chauí te mandando estudar história. Fatos, fatos, fatos.
Curiosamente eu conhecia seu trabalho e nem sei quem é Sette-Câmera.